quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mário de Andrade - Paulicéia Desvairada

Alguns trechos de Paulicéia Desvairada
São Paulo! comoção da minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e Ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paria... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!

Além da Ode ao Burguês e da Paisagem nº 1, outro poema importante do livro são As Enfibraturas do Ipiranga (Oratório Profano) envolvendo cinco vozes, representativas das forças culturais de São Paulo, na década de 1920.

Os Orientalismos Convencionais são os escritores e demais artífices elogiáveis, vale dizer, os poetas parnasianos:

Os alicerces não devem cair mais!
Nada de subidas ou de verticais!
Amamos as chatezas horizontais!
Abatemos perobas de ramos desiguais!
Odiamos as matinadas arlequinais!
........................................................................
Para que cravos? Para que cruzes?
Universalizai-vos no senso comum!
Senti sentimentos de vossos pais e avós!
Para as almas sempre torresmos cerebrais!

As Senectudes Tremulinas são os milionários e burgueses, representando a classe dominante paulistana, na década de 1920:

Só admiramos os célebres
e os recomendamos também! (...)
Preferimos os coros dos Orientalismos Convencionais! (...)
Alargar as ruas...
E as instituições?
Não pode! Não pode!
Maiores menores
Mas não há quem diga
Maiores menores quem são estes homens
que cantam do chão?

Os Sandapilários Indiferentes representam o operariado, a gente pobre, o povo marginalizado e alienado do processo cultural, embalado na valsa, e no e luziam as Estrelas, de Puccini:

Vá de rumor! Vá de rumor!
Esta gente não nos deixa mais dormir!
Antes “E lucevam le stelle" de Puccini!
Oh! pé de anjo, pé de anjo!
Fora! Fora o que é de despertar!

As Juvenilidades Auriverdes são os modernistas de 1922, inquietos, inconformados. São os “tenores” do oratório profano:

Somos as Juvenilidades Auriverdes!
A passiflora! O espanto! A loucura! o desejo!
Cravos! mais cravos para nossa cruz! (...)
Nós somos as Juvenilidades Auriverdes!
As forças vivas do torrão natal,
as ignorâncias iluminadas,
os novos sóis luscofuscolares
entre os sublimes das dedicações! (...)
(queremos) Os tumultos da luz!...
As lições dos maiores!...
E a integralização da vida no Universal!
As estradas correndo todas para o mesmo final!...
E a pátria simples, una, intangivelmente
partindo para a celebração do Universal! (...)
(...) Cães! Piores que cães!
Vós, burros! malditos! cães! piores que cães! (...)
Seus borras! Seus bêbados! Infames! Malditos! (...)
Seus ............................................................!!!
(a maior palavra feia que o leitor conhecer)

A Minha Loucura representa a consciência do poeta, que atua como solista:

Chorai! Chorai! Depois dormi!
Venham os descansos veludosos
vestir os vossos membros!... Descansai!
Ponde os lábios na terra! Ponde os olhos na terra!
Vossos beijos finais, vossas lágrimas primeiras
para a branca fecundação! (...)
Oh! Juvenilidades Auriverdes, meus irmãos: (...)
Diuturnamente cantareis e tombareis.
As rosas... As borboletas... Os orvalhos...
O todo-dia dos imolados sem razão...
Fechai vossos peitos! (...)
Venham os descansos veludosos
Vestir os vossos membros... Descansai!
Eu... os desertos... os Cains... a maldição...